terça-feira, 17 de junho de 2008
DOR SEM ABISMO
foto de Luís lobo HenriquesVisão fracturada em duas
Coluna rompida qual pneus
Estômago ulcerado pela contenção da dor
Coração vadio fugindo ao desprezo
Manhãzinha, mascara-se de normalidade
Tranca, no silêncio, a dor
E parte para o trabalho
Age semelhante aos outros,
Cumpre a sua função.
Finda a labuta,
Regressa logo a casa.
Retira a máscara,
Solta a sua deficiência
Dá-lhe repouso, bálsamo e chá de lúcia-lima, genuíno, colhido da horta.
Já no deserto do sofá, envolta num aconchego de lã, diz:
- «Bem, vês que estou extenuada e preparada para o fim, lembra-te do meu pedido: deixa-me morrer à sombra de uma árvore.»
Deus responde-lhe:
- «Já vi que estás preparada, a tua árvore, já plantada, é que ainda precisa de crescer!»
Rosa Guedes, 22 de Maio/2008

