terça-feira, 17 de junho de 2008

Bom-dia! Para onde olhamos???



A cada verso nasço
E a cada verso o meu primeiro grito à Vida...

Depois,
Se caminho apalpando aos tombos, e se, aflito
Não atino e me perco até de mim
- é que os raios de Sol me cegaram, despiedados,
Meus olhos mal abertos, costumados
À escuridão do ventre de onde vim.




SERRA_MÃE, Sebastião da Gama

DOR SEM ABISMO

foto de Luís lobo Henriques

Visão fracturada em duas

Coluna rompida qual pneus

Estômago ulcerado pela contenção da dor

Coração vadio fugindo ao desprezo

Manhãzinha, mascara-se de normalidade

Tranca, no silêncio, a dor

E parte para o trabalho

Age semelhante aos outros,

Cumpre a sua função.

Finda a labuta,

Regressa logo a casa.

Retira a máscara,

Solta a sua deficiência

Dá-lhe repouso, bálsamo e chá de lúcia-lima, genuíno, colhido da horta.

Já no deserto do sofá, envolta num aconchego de lã, diz:

- «Bem, vês que estou extenuada e preparada para o fim, lembra-te do meu pedido: deixa-me morrer à sombra de uma árvore.»

Deus responde-lhe:

- «Já vi que estás preparada, a tua árvore, já plantada, é que ainda precisa de crescer!»

Rosa Guedes, 22 de Maio/2008