Quem nunca escreveu a lápis? - aperitivo
"Abril 2008
Hoje, eu li no jornal uma pequena notícia informando que a Viarco, no final do séc. XX, tinha cooperado, activamente, numa verdadeira revolução de mentalidades, graças à sabedoria subtil de um tal lápis-Viarco-Aladino. É curioso, eu ainda tenho um Viarco-Aladino, já muito pequenino, que a mãe me deixou no porta-lápis de madeira de dois andares. O lápis continua de fato vermelho listado de preto e com o nariz pontiagudo… presente, como sempre, para o que der e vier… O lápis é essencial no meu dia-a-dia. Ainda que, actualmente, não esteja muito em voga, eu continuo a utilizar o lápis: sublinho, no livro as frases que pretendo registar na alma. Também é um bom delator da insegurança seja do texto, da grafia ou do desenho, pois, facilmente, posso corrigir sem deixar rasto da incerteza ou indecisão ou até da alteração do pensamento. Gosto imenso de afiar os lápis de cor, de sentir o cheiro da madeira e do graffiti soltos nos leques de lápis, suspensos no afia prateado Lus. E, de seguida, colocá-los num copo transparente com os bicos afiadíssimos, virados para cima. Assim, arrumadinhos e prontos a dar asas à minha imaginação. Muito lápis gastei na escrita nos meus cadernos diários: lisos, quadriculados e de linhas. A apresentação dos cadernos era o B.I do aluno. Assim, os cadernos, encapados com papel lavável, estampado, continham na primeira página a abertura do período e o nome da disciplina. Esta página introdutória roubava-nos horas de recreio, de atenção e exercitava a criatividade que teimosa emperrava, por vezes, no estereótipo «Ciências da Natureza, 3ª classe, 1º Período, ano lectivo de 1964-65. Todas as letras eram, primeiramente, esculpidas a lápis, com uma leveza de pássaro, e depois eram decalcadas a caneta. Logo, se passava por cima delas, com um cuidado aveludado, o mataborrão, e deixava-se sossegadamente secar. Parece que a beleza da página introdutória era um bom presságio: a escola teria tanto de lúdico como de ditados, contas, problemas, cópias e redacções e ilustrações. Ao longo do ano, ia decalcando, com papel vegetal, flores, animais, frutos nas folhas dos cadernos diários onde tinha traçado uma margem azul, à régua, de um centímetro à esquerda e meio centímetro à direita. Abria a lição e escrevia a data por extenso a vermelho. A arrumação do porta-lápis e da pasta eram dois rituais bonitos e graciosos na passagem pela escola. Antes de ir para a escola, colocava na pasta de alças, os cadernos aprumados, os livros e no estojo: o lápis Viarco afiado, a aguça, a borracha verde Pelikan, a caneta cheia de tinta preta. Por vezes, lá ganhávamos um enfeite para colocar na ponta do lápis: o pato Donald, a Minnie… Penso que o objectivo destes suplementos decorativos, era para não trincarmos o lápis (o medo da régua, o cansaço, a impaciência, a insegurança eram registadas por mordidelas no dorso vermelho lápis, companheiro das nossas venturas e desventuras escolares). Tenho boas memórias das minhas redacções, do desenho à vista, a carvão, a lápis de cor… Penso que ainda hoje, quem escreve a lápis, certamente, sublinha a vida, traça a morte, rabisca com utopia azul o futuro… Por isso, continuemos...Todos por um Lápis !!!" Amanhã há mais!!!!

Hoje, eu li no jornal uma pequena notícia informando que a Viarco, no final do séc. XX, tinha cooperado, activamente, numa verdadeira revolução de mentalidades, graças à sabedoria subtil de um tal lápis-Viarco-Aladino. É curioso, eu ainda tenho um Viarco-Aladino, já muito pequenino, que a mãe me deixou no porta-lápis de madeira de dois andares. O lápis continua de fato vermelho listado de preto e com o nariz pontiagudo… presente, como sempre, para o que der e vier… O lápis é essencial no meu dia-a-dia. Ainda que, actualmente, não esteja muito em voga, eu continuo a utilizar o lápis: sublinho, no livro as frases que pretendo registar na alma. Também é um bom delator da insegurança seja do texto, da grafia ou do desenho, pois, facilmente, posso corrigir sem deixar rasto da incerteza ou indecisão ou até da alteração do pensamento. Gosto imenso de afiar os lápis de cor, de sentir o cheiro da madeira e do graffiti soltos nos leques de lápis, suspensos no afia prateado Lus. E, de seguida, colocá-los num copo transparente com os bicos afiadíssimos, virados para cima. Assim, arrumadinhos e prontos a dar asas à minha imaginação. Muito lápis gastei na escrita nos meus cadernos diários: lisos, quadriculados e de linhas. A apresentação dos cadernos era o B.I do aluno. Assim, os cadernos, encapados com papel lavável, estampado, continham na primeira página a abertura do período e o nome da disciplina. Esta página introdutória roubava-nos horas de recreio, de atenção e exercitava a criatividade que teimosa emperrava, por vezes, no estereótipo «Ciências da Natureza, 3ª classe, 1º Período, ano lectivo de 1964-65. Todas as letras eram, primeiramente, esculpidas a lápis, com uma leveza de pássaro, e depois eram decalcadas a caneta. Logo, se passava por cima delas, com um cuidado aveludado, o mataborrão, e deixava-se sossegadamente secar. Parece que a beleza da página introdutória era um bom presságio: a escola teria tanto de lúdico como de ditados, contas, problemas, cópias e redacções e ilustrações. Ao longo do ano, ia decalcando, com papel vegetal, flores, animais, frutos nas folhas dos cadernos diários onde tinha traçado uma margem azul, à régua, de um centímetro à esquerda e meio centímetro à direita. Abria a lição e escrevia a data por extenso a vermelho. A arrumação do porta-lápis e da pasta eram dois rituais bonitos e graciosos na passagem pela escola. Antes de ir para a escola, colocava na pasta de alças, os cadernos aprumados, os livros e no estojo: o lápis Viarco afiado, a aguça, a borracha verde Pelikan, a caneta cheia de tinta preta. Por vezes, lá ganhávamos um enfeite para colocar na ponta do lápis: o pato Donald, a Minnie… Penso que o objectivo destes suplementos decorativos, era para não trincarmos o lápis (o medo da régua, o cansaço, a impaciência, a insegurança eram registadas por mordidelas no dorso vermelho lápis, companheiro das nossas venturas e desventuras escolares). Tenho boas memórias das minhas redacções, do desenho à vista, a carvão, a lápis de cor… Penso que ainda hoje, quem escreve a lápis, certamente, sublinha a vida, traça a morte, rabisca com utopia azul o futuro… Por isso, continuemos...Todos por um Lápis !!!" Amanhã há mais!!!!
3 Comentários:
Já não era sem tempo...
O mais difícil é começar, depois... é sempre a abrir.
Continuação
Manticora
Adoro, está optimo! Fantástico...
O aperitivo deixou-me com sabor a água de rosas na boca!
Aguardo o prato principal.
Este comentário foi removido pelo autor.
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial